terça-feira, 23 de agosto de 2011

O ócio criativo

E no espelho eu vejo cores
e movimentos
congelados
numa emoção.
Vejo eu mesma
me inventando
e me amando
no ócio da criação.
Fora das linhas eu escrevo
e nas paredes rabisco
que consigo me dominar.
Talvez eu realmente consiga
- quando eu quiser me libertar.
E nesse silêncio ouço apenas minha voz
que diz o quanto me ama
num timbre diferente do seu.
É nesse momento que paro. E quebro o espelho.
Descongelando o momento
em que a minha vida parou.
Não existe superstição ou carma
E, se existe, me garanto
Agora tenho a melhor arma:

O meu próprio amor.

Vem

Então vem
Porque quando eu fecho os olhos lá está você.
Aqui está você.
Mas onde você está?

Então vem
Porque o meu calor sem o teu já não aquece neste inverno.
Porque as noites são tão longas e tediosas.
Porque o tempo é tão cruel e ligeiro.

Então vem
Porque simplesmente não tem jeito. Eu quero deitar no teu peito.
Pelo menos mais uma vez.
Então vem. E fica. Ou não fica. Sei lá.

Mas vem.
Sem palavras.
Sem desculpas.
Sem promessas.
Me empresta teu corpo e me dá teu carinho.

Então vem
Para que possamos fazer da noite uma festa. Uma pausa. Uma solução.
E que o dia seguinte seja claro
Sem dúvidas nem mistérios
de que a noite
foi só
uma ilusão.

Ontem já não importa

Te ter
Pra mim
Hoje
É algo
Assim
Tão ruim.

Não ter
Você
Sempre
É como
Seria
O fim.

E ontem já não importa
Quando eu me vejo assim:

Te querendo
Hoje
Agora
Do meu lado
-Perto de mim.

domingo, 21 de agosto de 2011

CORPO

Olhos, que só veem o que querem. Só olham reto. Só piscam por milímetros de segundos.
Bocas, que só falam quando sabem. Só se calam por preguiça - ou medo. Só ousam no limite.
Mãos, que só ajudam quando pedem. Só limpam a própria bagunça. Só acenam para conhecidos.
Braços, que quase não abraçam mais. Que se limitam. Que não se esforçam.
Pernas, que andam sempre pelos mesmos lugares. Que sobem e descem. Mas que nunca pulam.
Pés, que estão sempre no chão... Por que não libertá-los?

Com olhos, bocas, mãos, pernas e pés poderíamos inovar.
O que acontece é que nos limitamos ao pudor.
Rimos quando tem graça. Falamos quando nos interessa.
Porque tem que ser assim?
O nosso corpo é capaz de muito mais.

A melhor viagem

Sinto como se eu devesse conhecer lugares novos. Muitos lugares novos. Saber de coisas inúteis e singelas. Caminhar na areia e molhar os pés.
Talvez parar um pouco, durante muito tempo, e tentar não pensar em nada. Não pensar demais na vida; não planejar tanto o amanhã. Talvez essa pausa pudesse ser no alto de uma montanha. Ou em frente a uma lareira. Ou em alguma lanchonete com um bom café.
Correr pela neve e ficar com calor poderia ser um jeito de passar o tempo a tarde. Correr até ficar sem fôlego. E não para emagrecer.
Eu queria tirar um dia para observar as pessoas, outro para observar as coisas, outro para me observar. Mesmo que no final eu apenas me contente de que não se pode saber de tudo.
Conhecer línguas novas, culturas novas, novas pessoas e novos beijos. Conhecer, quem sabe, uma nova eu.
Sinto como se eu precisasse sair daqui para, realmente, conhecer ali. Não adianta dizer que desejo sair da rotina, se nada faço para que ela saia de mim.
Não quero abrir mão de tudo, mas talvez eu queira abrir mão de quase tudo.
Muitas coisas já não cabem no meu armário. Mais coisas ainda já não cabem na minha cabeça.
Deve estar na hora de viajar. Viajar e saciar essas vontades, esses desejos.

Viajar dentro de mim.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Um texto imprevisivel

Ela escreve crônicas e poesias. Ele é fissurado por futebol. Ela dançou ballet até os 15 anos. Ele repetiu o colégio na mesma época. Ela odeia novelas e ama seriados. Ele não fala inglês e assiste a todos os jornais na tv. Ela lê livros em inglês. Ele não liga muito para roupas. Ele ama strogonof. Ela não sabe cozinhar. Ela tem um carro importado. Ele não sabe dirigir. Ele não lê livros, ou textos, ou revistas. Ela queria saber tocar violão. Ele tem um corpo perfeito. Ela tem os olhos perfeitos e expressivos. Ele não consegue acordar muito tarde. Ela nunca acorda cedo. Ela está sempre atrasada. Ele também. Ela é mimada. Ele gosta de mostrar o que sente, e não de dizer. Ela bebe vodka. Ele, cerveja. Ele fica sexy com o uniforme do campeonato de futebol. Ela, com os óculos de grau. Ela ama a praia, mas prefere a lua ao sol. Ele está sempre bronzeado. Ela está sempre sonhando. Ele é mais novo. Ela é mais velha. Ele diz que ela parece uma mulher adulta falando, mas algumas vezes age estupidamente, como uma menina. Ela, então, diz: dani-se!

Ele e ela nunca dariam certo mesmo.

Muita Coisa

É como se eu fosse uma formiguinha, andando devagar e com medo de pisarem em mim. Carrego algo como se fosse o último bem do universo, com muito esforço e força de vontade.
Outras horas é como se eu fosse uma flor... Que fica ali parada; admirando e, melhor, sendo admirada. Meus espinhos só machucam quem ousa me tirar do lugar, ou ultrapassar meus limites.
Algumas vezes sou como uma borboleta. Uma borboleta que não para de voar e quase não descansa. Voando por aí percebo tudo - mas tenho medo de ser percebida.
Outro dia me senti como a lua.
Totalmente exposta e brilhante... Pena que alguns despercebidos só admiram o sol.
Têm momentos que sou como uma fera. Qualquer tipo de fera que ataca sem motivos e berra com qualquer um.
E hoje? Bom, hoje me senti como uma pessoa normal. Uma mulher. Uma menina.
Me senti como... Ah, bom... Como o resumo de todas as outras sensações. Afinal, todos somos feitos de muita coisa.

Liberdade, por favor.

Já posso abrir os olhos?
Ele já largou a mão dela? Já parou de passar a mão em seu rosto e sorrir como um bobo?
Já posso respirar fundo e fingir que está tudo bem?
Fingir que não vi. Que não liguei.
E agora? Mesmo depois de abrir os olhos, continuo imaginando pra onde eles vão.
Imagino ele suspirando no ouvido dela. Tirando seu vestido. Mexendo em seus cabelos.
Imagino ele fazendo com ela tudo que fazia comigo. Falando tudo que dizia pra mim. E algumas coisas a mais. Provavelmente as mais importantes.
Droga. Não quero mais isso.
Não quero uma limitação de lugares para ir. Pessoas para conhecer.
Não. Eu quero ser livre!
Minha vida não pode ser limitada por ele, por causa das reações causadas por vê-lo sem tê-lo.
Já posso abrir os olhos pra vida?
Reparar quanta coisa mais importante além desse amor não correspondido existe?
Notar quantas novidades estou vivendo e o quanto estou feliz?
Sim, eu posso.
E abri.
Mas perguntas continuam voando pela minha cabeça. Acho que elas nunca vão deixar de existir.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Já acreditei...

Eu já acreditei em Papai Noel, em coelho da Páscoa e em Fada do Dente. Já acreditei na superstição de que não se deve passar embaixo de uma escada. Já acreditei em Bicho papão e fui correndo dormir no quarto dos meus pais. Já acreditei e confiei na honestidade dos comercias de comida. Já acreditei em vendedor de loja dizendo que eu não acharia um preço melhor. Já acreditei na minha mãe me dizendo que não, a espinha no meio da minha testa não estava aparecendo tanto. Já acreditei em "mão" de cabeleireiro. Já acreditei em correntes de internet que me deram medo. Já acreditei que um filme mudaria a minha vida. Já acreditei que um livro mudaria a minha vida. Já acreditei em conselho de manicure. Já acreditei que amizades durariam para sempre. Já acreditei que o amor de algum homem seria eterno. Já acreditei em amor a primeira vista. Já acreditei que poderia mudar o mundo. Já acreditei que poderia mudar as coisas. Já acreditei que sexo prenderia algum homem. Já acreditei que não fazer sexo prenderia algum homem. Já acreditei que ser sincera seria a solução. Já acreditei que ser sincera estragaria tudo. Já acreditei que tudo que me diziam era verdade. Já acreditei mais nos outros do que no espelho. Já acreditei mais nos outros do que em mim mesma. Ja acreditei em milagres. Já acreditei que uma boa noite de sono resolveria tudo. Já acreditei que o álcool me faz esquecer os problemas. Já acreditei que os problemas são culpa do álcool. Já acreditei que tinha um milhão de amigos. Já acreditei que nenhum dos milhões iria me trair. Já acreditei que nunca trairia alguém. Já acreditei que algum dia aquela pessoa me daria valor. Já acreditei que a mentira que eu ouvia era a verdade, só porque era o que eu queria escutar. Já acreditei que a verdade era a mentira, só porque era o mais difícil de se enfrentar. Já acreditei que me ocupar era a solução para parar de pensar. Já acreditei que pensar muito era meu defeito. Já acreditei que pensar pouco era meu defeito.
Já acreditei que algum dia eu teria a soluções para todos os problemas e sacaria qual é a da vida. E hoje eu desacredito nisso, assim como algum dia já desacreditei em todas as outras coisas citadas. Creio que nunca saberemos todas as soluções ou como entender todas as nossas reações.
O acreditável depende apenas de nós mesmos. Mas a realidade, de fato, é que jamais saberemos a verdade absoluta.
Eu já acreditei que um dia eu me entenderia... Mas acho que prefiro ser um mistério.