segunda-feira, 19 de julho de 2010

Maria Fumaça

Este texto e os dois abaixo dele foram escritos em Minas Gerais. Um tempinho de férias dos textos do mesmo estilo :)
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Um 60 bem redondo e amarelo, a minha esquerda, carrega lenhas mal cortadas.
O frio de lascar faz a moça sentada recolocar o seu casaco.
Estou em um tipo de locomotiva de séculos atrás...
Não só o trem em si, mas uma humilde e inteira população movida pelo calor, um calor que me queima os olhos –o de seus corações.

Um homem grita de longe
Foguetes explodem no céu cheio de nuvens –que está fora do meu campo de visão, só me permitindo ouvi-los.
O sino anuncia a partida...

O grande 60 amarelo, impresso na locomotiva quebrada a minha esquerda, se afasta aos poucos, bem lentamente.
Meus olhos se fecham num movimento involuntário por causa da luz ao sairmos do túnel.

Do lado esquerdo agora vejo o trilho, casebres... cheiro de paz.
À direita, como uma gafe, um anúncio gigante da Coca-cola.
Rapidamente me curvo para a esquerda.
É como uma versão em câmera lenta da Mountain Railroad, da Disney.

Percebo um pedacinho tímido do sol entre as nuvens cinzentas.
Aliás, me dou conta de que estou toda de cinza, inclusive as unhas.
Recebo acenos e sorrisos de crianças, adultos e idosos
Todos na rua, parados com a atração do dia e motivo maior de felicidade: Ver o trem passar.
E eu lá dentro com um sorriso amarelo, de cinza tédio, cinza triste, cinza ranzinza...
Alguém aí tem uma acetona pra me emprestar?

Vou seguindo pelos trilhos.
Sentada, unhas escondidas na manga do casaco e o coração sorrindo para o lá fora.
Pelo longo caminho da locomotiva, que carrega tanta gente para o mesmo lugar, tento achar o meu próprio lugar, aquele dentro de mim mesma. Será que ele está junto ao sentido dos pensamentos?
Rumo ao inesperado. Experiência nova simplesmente incrível, me transportei a antiga simplicidade.

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