quinta-feira, 3 de junho de 2010

A casa

Era uma casa muito engraçada
não tinha teto, não tinha nada.
Quase ninguém sabia
Mas ele a vangloriava.

Ninguém queria entrar nela não
Porque na casa não tinha chão.
Não dava nem pra pensar em rede
Paisagem aberta, mas excesso de verde.

Os olhos dele que ha pouco brilhavam
se afogaram em lembranças que se menosprezavam.

De um lado, vidros no chão.
Em contrapartida, cheiro de festas que ocorriam no salão.
Do outro a piscina turva.
Mas ele ainda estava fissurado.

Como lembranças podem se tornar tristes por causa de imagens? Como pode? Não pode.

Ele, então, segue casa a dentro.
Mais lembranças, mais momentos.

Indignado com tanto pó, tanto mato, tanto rato
Parou segundos para voltar décadas e reviver cada fato.

Ali estava seu pai, sentado na rede.
Havia rede, havia parede.
Alia estavam seus irmãos fazendo pipi, porque pinico havia ali.
Ali estavam suas irmãs na varanda, havia o teto que sonhos abrigava.
Ela era feita com muito esmero, era onde ele dormia e com sua mãe sonhava.

Na vista o mar, o oceano, o infinito... Uma explosão de sentimentos e sentidos em um mundo completamente natural.
Por uns minutos ele volta ao tempo real.

A sua frente a ponte, que na outra época não existia.
A sua frente a sua mulher, a sua filha.

Fecha os olhos, de novo brilhando, cheiro de futebol, de gargalhadas e segredos...

Ai ele se lembra de naquele lugar ter feito os primeiros traços de seu presente, de seu futuro.

Abrindo lentamente os olhos, caminha de volta ao seu presente.
Num suspiro longo e profundo ele pensa, quieto, em sua mente:
"é uma casa muito engraçada, não tem mais teto, não tem mais nada. Não quero mais voltar aqui não, porque não quero perder meu chão. Hoje eu tenho minhas próprias paredes, agora posso descansar na rede. Lembranças boas embora não irão, eu as tenho guardadas em meu coração. Ela foi feita sem rancor nenhum, na rua dos sonhos, numero vinte e um."

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