domingo, 30 de maio de 2010

Balança: Múmia e museu.

Se eu pudesse reviver minha vida?
Se eu pudesse revive-la eu não ficaria com medo de andar de bicileta a noite, por causa dos morcegos.
Não rasgaria as cartinhas de amor de um menino desamparado e apaixonado.
Não engoliria um choro daqueles de berrar e tremer, por simples vergonha de ser criança e chorar na frente dos outros.
Eu jamais deixaria de ir na Sheikra, na Disney.
Não deixaria de ir a piscina porque estava um pouco gordinha. (eu não acreditaria se alguém me disesse que eu olharia as fotos desta época e me acharia tão magra).
Eu iria deixar de ser boba e não experimentar a famosa chapinha, eu iria apenas acreditar no espelho e nos meus pais e ver o quanto meu cabelo era lindo (e nunca mais iria voltar a ser).
Não deixaria de fazer as mechas loiras, vermelhas e rosas, quando criança, mas jamais pintaria meu cabelo com mechas californianas e reclamaria do seu volume.
Minhas unhas? eu ia deixá-las grandes só depois dois 16 anos, até lá eu ia sujá-las bastante e pintá-las uma de cada cor (eu nunca imaginaria que com 18 anos o colorido curto estaria na moda...).
Eu não deixaria de fazer um boneco de neve, na neve, por estar cansada.
Eu não ligaria pra certas críticas de amigos que não são tão amigos...
Eu só conheceria marcas famosas de roupas e maquiagens depois que a barbie perdesse o encanto totalmente.
Eu não deixaria de ser fissurada por sapatos, mas não subiria no salto alto tão cedo...
Meus pés? eu gastaria mais dinheiro com dermatologista para cuidar das bolhas e nunca teria largado o ballet.
Eu nunca largaria o jazz e o ballet.
Eu não teria vergonha de impor minhas opiniões.
Eu não teria vergonha de mostrar meus textos, roteiros e músicas.
Eu teria feito mais tempo de teatro e ouvido meu pai...
Eu não esconderia meu talento...
Eu não beberia aquelas cervejas e drinks e estaria contando com uns conselhos bons até hoje.
Eu não acreditaria tanto assim nos homens...
Eu não deixaria jamais uma paixão ficar a frente de uma amizade, ou trocaria uma razão por um beijo.
Eu jamais passaria do limite por impulso, prazer ou vontade.
Eu teria medido as palavras e entendido mais.
Eu esperaria menos dos outros e teria menos pessoas ao meu lado para esperarem de mim.
Eu correria mais atrás de quem fez por merecer.
Eu usaria mais meu lado criativo, sem medo de não agradar.
Eu teria continuado a me exercitar por simples prazer, e não parado pela ilusão de que assim eu iria estudar mais.
Eu deveria ter estudado um pouco mais.
Quem sabe eu não deveria ter tomado ritalina...
Eu teria tido uma memória melhor por todos aqueles que se lembram o tempo todo de mim. Quem sabe uma memória pior para aqueles que passaram e deixaram apenas feridas?
Eu teria amado mais, sofrido menos.
Eu não teria remexido em histórias que eram intactas e perfeitas.
Eu jamais falaria demais, desabafaria, colocaria pra fora... por um amor não correspondido.
Eu não forçaria sentimentos já inexistentes para preencher vazios ainda existentes.
Eu não me empolgaria com pouca coisa e muito menos daria muitos motivos de empolgação para certas pessoas.
Eu teria esperado mais, esperado a hora certa.
Eu saberia que certas coisas não se revelam, se esquecem.
Eu acreditaria mais no sexto sentido da minha mãe.
Eu ouviria as experiências do meu pai.
Eu teria prestado mais atenção na letra daquela música.
Eu teria parado o tempo naquela viagem, naquele lugar, naquela época...
Eu beberia menos, ou mais, ou menos...
Eu demoraria mais para confiar nos outros, para evitar a dificuldade de confiança no futuro.
Eu iria rir de fofocas.
Eu não iria repassar boatos.
Eu estaria ao lado da minoria.
Eu não teria perdido meu diário da infância.
Eu já teria desenterrado a caixinha que enterrei com 2 amigas na quarta série.
Eu não teria deixado de lado o essencial, em busca do superficial.
Eu não abriria a mão dos meus sonhos, por ser julgada de sonhadora exacerbada.
Se eu pudesse reviver a minha vida, eu teria tido menos casos e tornado aqueles dois mais especiais.
Teria feito escolhas diferentes, tomado decisões por mim mesma.
O passado não condena, o passado, pelo menos o meu, existe para refletir no futuro.
Quando eu penso em reviver o que já passou, perco a vontade na hora. Quem vive de passado é museu, quem o esquece é uma múmia.
O equilíbrio nada mais é do que a segurança de admitir o que se passou e passar por cima de tudo isso com a cabeça em pé.
Tive uma infância maravilhosa, sem comentários.
Passei por uma adolescencia com dores, amores, sem limites, com limites e muito cheia e colorida.
Hoje sou o que sou porque minha vida está sendo tudo isso. É um máximo.
Se eu pudesse reviver a minha vida, eu sentaria num sofá confortável, com muitos chocolates e lenços e assistiria a tudo. Perceberia cada momento...
Quem planeja muito, não é surpreendido. Quem procura, acha quase sempre o que não quer e eu continuo por aí, com medo de morcegos, mas jamais deixando de andar de bicicleta na rua, seja a hora que for.

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