quarta-feira, 5 de maio de 2010

Do outro lado da janela

Enquanto estamos em casa na banheira ou no salão de beleza
crianças passam fome nas ruas frias da cidade.

Reclamamos de cara feia por trabalhar tanto e ganhar tão pouco,
Tem gente que sorri quando diz que sonha em ganhar alguma coisa.

Passamos pela cidade de carro; roupas novas, perfumes franceses.
Ali bem perto, do outro lado da janela do carro (tão perto que é capaz de alcançá-lo) está o menino abandonado, quase desnudo, sem nem banho tomado.

Seguimos em frente com no máximo um suspiro.
Nesse segundo em que suspiramos (isso SE suspiramos) milhares de pessoas estão morrendo, sofrendo...

Os segundos de suspiros terminam.
Tudo volta ao normal.

Seguindo o trajeto, termina-se de comer o fast food
E lambendo a ponta dos dedos com um ar de satisfação
joga-se os restos com o lixo pela mesma janela que viu a pobreza.

A natureza chora.
O mendigo agradece.

Os barulhos do ipod do carro se confundem com os risos de amigos e toques de celulares.
Do outro lado da janela (daquela janela) barulhos de tiro, gritos e choros se misturam com o canto da cigarra quase extinta.

Nem se quer comenta-se.
Não ousam nem abrir a janela.

Estaciona-se o carro.
Pessoas descem em cima de seus saltos e sorrisos de boca a boca

Já no restaurante, em meio a uns goles na bebida e a umas mordidas no jantar,
Olham pela janela
Que não é a mesma janela de antes, mas nela existem as mesmas coisas despercebidas.

Com a cara mais triste do mundo comentam:
Se não fossem os incompetentes o nosso Brasil seria ainda mais belo.

Cabeças balançam fazendo que sim.
Outras abaixam com ar de incerteza.

Segundos se passam (os mesmos do suspiros, presumo eu).

As pessoas voltam aos seus goles e mordidas
Risos e barulhos.
Garçons passam e repassam com bandejas fartas
E a janela ainda fechada espera que alguém a abra.

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